quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Texto Ilustrativo com base no CAPÍTULO I do LIVRO RAÍZES DA PSICOLOGIA e sua relação com o FILME A FÚRIA DOS TITÃS


Izabel Freire, no livro As raízes da Psicologia, capítulo I, trabalha as influências de alguns filósofos pré-socráticos, na cidade da Grécia, dentro de um período chamado cosmológico, por volta do século VI a.C.. A preocupação nesse período era entender e explicar o cosmo e sua relação com o universo.
No período cosmológico alguns filósofos pré-socráticos preocupavam-se em entender e explicar o cosmo e sua relação com o universo através de elementos mais simples. Acreditavam que tudo que era complexo fazia parte do mundo das aparências e que o mundo só seria compreendido se conseguissem encontrar a unidade ou o elemento mais simples do universo. Essa nova maneira ou método de buscar a verdade, através desses elementos mais simples na fonte dos mundos, das estrelas, dos planetas, dos homens e dos animais, recebeu o nome de elementismo, atomismo e monismo, defendidos por alguns filósofos pré-socráticos e que estão aqui relacionados com o filme - Fúria dos Titãs, filme de Ray Harryhausen.
Fúria dos Titãs é um filme que retrata alguns dos princípios da visão cosmológica, os quais se encontravam na natureza (água, sol, ar e terra), nos seres mitológicos, em suas crenças e histórias miticas, onde as narrativas explicitavam o envolvimento, manipulação e poder de um Deus, todo poderoso, chamado Zeus que junto a outros Deuses decidia sobre os acontecimentos terrenos, assim como todos seus habitantes.


Tales de Mileto (640-548aC) - Preocupado com as transformações das coisas, buscou um princípio único ou fundamental que permanecesse estável, mesmo com as mudanças, elegeu a água como elemento principal porque nutre e está contida, em alguma proporção, em todos os seres vivos.

O elemento água está representado miticamente no filme pelo pai do mundo “okeanos” que demonstra como sua força é capaz de destruir aqueles que quebram a ordem estabelecida. Zeus ao saber da atitude do Rei Acrisio, que com ciúme de Zeus, determina que sua filha Dânae e o seu neto Perseu fossem encerrados numa urna e lançados ao mar. Zeus ao saber da ação de Acrisio determina a Poseidon destruir a cidade de Argos, reino de Acrisio, com a ajuda do titã Kraken, um monstro marinho que habitava (preso), no fundo do oceano. Ninguém foi poupado. Esta passagem do filme está representando psicologicamente no filme como a busca do autoconhecimento. Ir às profundezas e abrir portas para conhecer nossos mais temerosos monstros (raiva e medo) e aprender a lidar com eles.


Heráclito (540-475aC): dava mais ênfase ao processo, à dinâmica e não ao elemento estático. Para ele “tudo no tempo se transforma em seu oposto”. Encontra no fogo o elemento básico do universo, sendo este o agente de mudança, pois não encontrava no universo nenhuma substância duradoura. Contribuiu para a psicologia no sentido de lembrar sempre ao psicólogo que ele não trabalha com unidades fixas, mas sim com elementos mutáveis.

No filme, está representado por Perseu quando foi atrás de seu destino ou seja em busca da conquista do trono de Argos e de seu amor, Andrômeda. Para isso, enfrentou corajosamente e protegido pelo Deus do Olimpo, Zeus, diversos perigos em diversos estágios


Pitágoras (570-496aC): Considerava o número como a essência permanente do mundo e esta se encontrava no princípio matemático. Para ele caberia ao estado o poder supremo de orientar a educação, assim seriam mantidas a ordem do universo e a ordem social, conceito de harmonia central que ele aplicava à vida humana - harmonia entre o corpo e a alma; harmonia de pais e filhos, de família e estado e de estados entre si. Na psicologia o uso desses métodos quantitativos foi um dos fatores decisivos para fazer dela uma ciência.

Pitágoras sustentava a existência de uma alma imortal, distinta do corpo e no qual se encarnava como em uma prisão. Essa alma imortal é retratada no filme nos desdobramentos de Andrômeda enquanto dormia e era levada em uma gaiola por um abutre gigante para encontrar-se com Galibus.

Anaxágoras (499-428aC), Dizia que tudo está em tudo, pois em cada coisa há uma parte de todas as outras. A união desses elementos seria um ato da razão divina. Admitia a existência de uma diversidade de elementos, as sementes que trariam em si o germe das coisas. Essas sementes estariam contidas no magma original, separadas por uma inteligência ordenadora. A sua contribuição para a psicologia moderna está no fato de ter dado atenção ao processo psicológico enquanto protestava contra o reducionismo e elementismo. A valorização dada, por ele, à disposição e ordem dos elementos no todo, são aspectos que posteriormente fundamentarão a Gestalt – Escola das Psicologias, Séc. XX.

Esse pensamento pode ser relacionado com a existência de uma força superior e transcendente onde os deuses aparecem nas figuras de Zeus, Hera, Afrodite, Diana, Tetis e Poseidon com poderes sobre-humanos e que podiam manipular e determinar o destino dos mortais.



Demócrito (460-370aC): Considerava que o universo era constituído de átomos materiais indivisíveis, que se distinguiam pela forma, pela ordem, tamanho e posição. Atomista, elementista, reducionista e determinista considerava que os pensamentos e as ações humanas bem como todos os acontecimentos de sua vida eram determinados por agentes externos - de forma tão rígida como o curso das estrelas. Para ele a natureza se explica por si mesma. Através da diferenciação da quantidade dos movimentos dos átomos, Demócrito desenvolveu a primeira psicologia materialista lógica, distinguindo o psíquico do físico.

Demócrito inspira nos personagens míticos do filme onde é encontrado a sua expressão e os seus destinos no determinismo. Danae, filha do Rei Acrisio é condenada à morte em função de suas ações, determinada por seu pai (um agente externo); Galibus, filho de Tétis, era noivo de Andrômeda e foi punido por Zeus pelo seu temperamento destruidor e por ter matado sua manada de cavalos alados, dos quais só restou Pégaso. Por conta desses acontecimentos Galibus foi transformado em um pária e obrigado a morar em um pântano. Tetis, mãe de Galibus, sentiu-se injustiçada e como não podia vingar-se de Perseu que era protegido de Zeus, lança uma maldição para Andrômeda não casar com homem nenhum

A partir da compreensão do texto sobre o período cosmológico e do filme Fúria dos Titãs podemos considerar que o período pré-socrático foi representado por filósofos que buscavam entender e explicar o cosmo a partir dos elementos da natureza. Essa busca deu início a uma nova forma de o homem pensar, ou seja, passou a se observar e a questionar sobre o princípio e a lei que regia o universo até então.

Fazendo uma analogia ao filme Fúria dos Titãs podemos relacionar a passagem desse período com o questionamento e preocupação, em perder o poder ora regido pelos deuses, através da fala de Hera “...e se a coragem e a imaginação se tornarem comuns entre os mortais”

Diante desse cenário, concluímos que os processos psicológicos evidenciados pelo homem na sua relação com os deuses e seres mitológicos, foram apropriados pelas ciências psicológicas porque foi percebido que o mito continua em nosso imaginário, uma vez que a linguagem não consegue dar conta de todas as nossas necessidades de expressão.

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